domingo, 23 de janeiro de 2011

PM ajuda ex-traficantes a buscar emprego

RIO - O projeto de pacificação de favelas previa a retomada do território que antes era dominado por traficantes armados. O que as Unidades de Polícia Pacificadora não imaginaram é que acabariam também fazendo um trabalho inédito de recursos humanos junto a ex-integrantes do tráfico. Abandonados pelos chefes das facções, esses criminosos sem passagem pela polícia e com idade entre 16 e 25 anos começaram a buscar emprego com a ajuda da PM, que antes era seu principal inimigo, mostra reportagem de Marcelo Dutra, publicada neste domingo pelo O GLOBO. Dezenas desses pequenos traficantes estão conseguindo emprego com carteira assinada, como motoboys, pedreiros, comerciários, porteiros e em estacionamentos privados.
-Ou a gente arruma um emprego ou tomba ou vai em cana. O império acabou. Perdemos, vou fazer o quê? - disse um dos novos trabalhadores ao repórter Marcelo Dutra.
Num primeiro momento, com o pedido informal de alguns comandantes de UPP, esses ex-soldados do tráfico foram encaminhados a estacionamentos. Como a maior parte não tem carteira de habilitação, trabalha como operador de tráfego. Mas outros foram trabalhar em portarias de prédios, como motoboys, ajudantes de obra e pedreiros. Os nomes dos ex-soldados do tráfico e seus parentes estão mudados nesta reportagem. Contudo, suas histórias, locais de moradia e idades permanecerão inalterados.
Tiago, de 18 anos, um jovem da Tabajaras, até o ano passado exercia a função de "endolador" (embalador) de cocaína. Foram quatro anos a serviço do crime, o que lhe garantia uma renda mensal de não menos de R$ 3 mil. Hoje, ele trabalha numa obra na região, carregando sacos de cimento. Ganha em média R$ 500 por mês.
- Eu queria muito ser bombeiro. Mas acho que agora não dá mais, né?- diz Tiago. - É que bombeiro ajuda os outros. Não quero mais nada com a vida errada. Pedi ajuda aos homens (PMs) e eles me deram uma chance. Estou dentro da lei agora e vou ajudar minha família.
No Andaraí, Pedro, de 17 anos, diz que também vigiava a movimentação da favela, mas evitava pegar em armas. Numa comunidade, corre mais risco de vida quem está armado.
- Sempre que acontecia uma parada errada (tiroteio) aqui, tombava um que estava armado. Eu não dava esse mole. Só ficava na espreita - diz ele, que trabalha carregando caixas numa loja na Tijuca.
Os erros de português e as gírias são comuns aos jovens que trabalhavam para o tráfico. Segundo a PM, a maior parte desse grupo lançado à força no mercado de trabalho não tem sequer o primário completo. Muitos são analfabetos. A faixa etária vai de 16 a 25 anos e eles não têm qualquer qualificação profissional. Há seis meses comandando a UPP da Tabajaras, o capitão Renato Senna diz que todos esses fatores dificultam muito obter um emprego. Mas os que conseguem trabalho têm demonstrado determinação incomum.
Leia a íntegra da reportagem no Globo Digital (somente para assinantes)

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